A Agência das Nações Unidas para Saúde Sexual e Reprodutiva em Moçambique (UNFPA), em parceria com o Centro de Informática da Universidade Eduardo Mondlane (CIUEM), levaram, recentemente, a cabo o HackLab Bootcamp 2024, uma apresentação das Propostas de Inovação para os sectores do Género e Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos em resposta às Mudanças Climáticas.
A chamada para o projecto juntou catorze jovens inovadores, cujas propostas foram avaliadas por uma mesa de jurados da UNFPA.
Marta Uetela ficou entre as vencedoras do concurso, em Moçambique, com o seu projecto ‘Baaike’, uma ideia que consiste numa bicicleta feita através da reciclagem de plástico marinho. Mas não parou por aí. No presente mês de novembro, Marta participou do concurso regional de inovação, em Kigali (Ruanda), de onde também saiu vencedora.
Quem é Marta Uetela?
Motivada pela ideia de um ambiente competitivo, Marta Uetela é uma moçambicana, formada em Designer Industrial, ciclista, nas horas vagas, e se descreve como alguém que acredita que pequenas acções podem
criar grandes impactos. Considera-se ainda uma eterna curiosa e apaixonada por soluções que conectam pessoas e sustentabilidade.
Uetela viu no Hacklab Bootcamp 2024 uma oportunidade para testar as suas habilidades, além de ser uma chance de partilhar e melhorar o conceito e ter acesso a conteúdos para desenvolvimento de negócios.
Especializada em desenvolvimento de negócios e inovação pela Innovation Hub, na França, a entusiasta pela sustentabilidade conta que a ideia da “Baaike” surgiu ao ver a quantidade de plástico e os desafios de mobilidade em Moçambique, após uma viagem à Pemba, província de Cabo Delgado, em que verificou o que chamou de “inconsistência e insuficiência do transporte público”, motivo que, nas suas palavras, “faz as pessoas caminharem entre dois a dez quilómetros, ou mais, para terem acesso a serviços básicos.
Para o desenvolvimento do seu projecto (Baaike) pesou, também, o facto de existir uma quantidade elevada de redes de pesca e outros resíduos plásticos ao longo da praia, resíduos estes que se tornaram a matéria-prima para o desenvolvimento da “Baaike”.
Com o suporte de amigos, família e alguns parceiros, Marta Uetela conta que participar do Hacklab, no Centro de Informática da UEM, e no Espaço de Inovação, em particular, lhe proporcionou “uma formação intensa, carregada de conteúdo partilhado por mentores com experiência diversificada nas mais diversas temáticas sobre o desenvolvimento de negócios”.
Venceu o Hacklab Bootcamp em Moçambique e foi representar o país no concurso regional em Kigali. Conte-nos esta experiência.
“Foi surreal! Bastante competitivo. Estamos a falar de 8 inovações de 4 países, respectivamente: Sudão, Madagáscar, Kenya e Moçambique. O melhor foi perceber que o conceito “Baaike” fazia sentido em diferentes lugares, porque o mesmo desafio de acesso a opções de mobilidade e poluição por plástico é uma realidade em diferentes países da África e não só. Voltei com o prémio para Moçambique inspirada, com novos contactos e possibilidades”, explanou Marta.
Que desafios principais pode destacar de todo este processo?
“Convencer as pessoas no geral, o potencial grupo alvo e investidores de que sim, é possível fazer uma bicicleta à base de plástico reciclado. O acesso à tecnologia, laboratórios e recursos para desenvolver a pesquisa também foi desafiador”.
O que podemos esperar, como passos subsequentes, do projecto “Baaike”?
“Mais baaikes, claro! Melhor e maior acesso a opções de mobilidade nas zonas rurais. Pretendemos escalar internamente e explorar novos mercados”.
Marta Uetela conclui afirmando que “Baikke” tem por objectivo reduzir a distância e o tempo entre as pessoas que procuram por bens e serviços como a água, a educação e serviços de saúde, bem como criar maior e melhores oportunidades a médio e longo prazo, enquanto se cria maior consciência sobre a reciclagem.